sexta-feira, 16 de outubro de 2020

MuSEu SE e Eu!

 – Tudo começou com Vicky, uma cachorrinha...

Vicky e eu em setembro de 2011, com meu lindo poncho,
feito por minha amiga de adolescência, que estava de visita.

Diante da hercúlea tarefa de remodelar um Museu, revivi os primeiros dias de tensão e desconforto, na verdade foram semanas, quando me deparei com o gigante império de obras de Sergius Erdelyi, a ponto de ter pedido para a assistente anterior voltar ao cargo e me dispensar desta tarefa insana que começou por causa de Vicky...

Quis o destino que, em função de ter que castrar uma cachorrinha, eu conhecesse final de abril de 2011, o que denominei na época de Parque de Esculturas, pois que a extensão veterinária da PUCPR estava sediada dentro desse Parque, onde se encontram os Museus de Sergius.

Enquanto esperava Vicky ser operada, fui andar pelo parque e ao ver uma das curiosas “casas”, de porta aberta, entrei e perguntei o que era aquilo? Digo: como assim existia em uma cidade, que poucas pessoas conheciam de nome, algo assim incrível, que nem na Europa eu havia visto? Um Museu a céu aberto...

VICKY E MIMI USADOS PELO DESTINO

Vicky e Mimi eram muito amigos...

Quando fui retirar os pontos da operação voltei a perguntar para um funcionário local daquela “casa curiosa” (que depois soube  era sede da extensão Social da PUCPR), se ele havia conseguido um emprego para mim naquele lugar lindo... Ele, sempre rindo, disse que não!

Voltei pela terceira vez para castrar minha gata Mimi e enquanto esperava, lá fui eu perguntar para o tal funcionário se havia recebido meu e-mail com meu currículo... e vendo que eu não desistia (acho), ele me falou de Sergius, que a aquela hora (9h00) deveria estar chegando...

Surpresa falei: O quê? Então o artista vive aqui e você só me diz isso agora? E lá fui eu abordar Sergius e esposa (Elisabeth Loibl), que, de fato, estavam chegando no escritório da Panagro em frente, e desatei a falar em alemão expressando minha admiração pelo Parque de Esculturas...

A TROCA DE EMPREGOS E O USO DO ALEMÃO

Conclusão: acabei dispensando um contrato de trabalho em uma multinacional alemã em Curitiba (que estava apenas aguardando a finalização da reestruturação de um departamento para oficializar minha vaga), para, de fato, começar a trabalhar como Assistente de Sergius em junho de 2011.

Em julho de 2011 iniciamos os contatos com Viena (via Anelise Gropp, vice-consulesa da Áustria), para planejar uma exposição de Sergius em Viena – e, de fato: em novembro daquele ano viria Dra. Sàrolta Schredl (ler Xárolta) de Viena fazer a seleção das obras e em outubro de 2012 ocorreria a Retrospektive Aspekte...

Sendo assim, foi indispensável o uso do alemão durante quase 2 anos, e assim constatei, tempos depois, que nada é mesmo por acaso: caí de pára-quedas em Tijucas do Sul e naquele Parque de Esculturas porque estava previsto trabalhar com Artes... o que, aliás, era meu desejo, tanto é que...

PAIXÃO NATURAL POR ARTES...

Em outubro de 2010 iniciei contatos com Galerias de Arte em Curitiba, na esperança de poder extravasar minha natural paixão por arte, prova que, quando vivi na Suíça e pude conhecer alguns países da Europa, minhas primeiras visitas sempre incluíam galerias e museus...

Assim conheci a Tate Gallery (em Londres – ler Teit), onde se encontra uma das minhas pinturas favoritas, o British Museum, o Louvre, o Museu Rodin, os Museus de Basel (Suíça, onde vivia), onde meu artista preferido é Arnold Böcklin, e outras... só citando os espaços de arte mais famosos.

O que eu não tinha imaginado é que iria ter que trabalhar para um artista singular, que além de produzir ainda obras sem parar embora com 91 anos, já tinha produzido milhares, sendo que a cada época produzia obras diversas, com diferentes técnicas, materiais e gêneros...

3 DESAFIOS:  EXPOSIÇÃO EM VIENA, VÍDEO E LIVROS

Mal tinha vencido o desafio de conhecer seu vasto acervo e ajudar na seleção para Viena com dados e detalhes tivemos a ideia de produzir um vídeo porque Sergius disse que não iria prá Viena ver sua exposição... e feito isso ainda em 2012, no ano seguinte Sergius quis realizar um sonho antigo:

- Um livro contendo seu acervo!

E aqui o destino pôs seu dedo novamente, pois, numa das visitas ao MON para uma reunião com Estela Sandrini (então Diretora Cultural), Sandra Fogagnoli (então Coord. do Depto. de Planejamento) e a embaixadora da Áustria na época, Marianne Feldmann, fomos apresentados a Pieter Tjabbes.

Disso resultou uma visita à Fazenda e na conversa com Sergius ficou claro que Pieter faria a produção do livro... que, de fato, depois de aprox. 2 anos ficou pronto... quase 5 kg de pura arte... experimental, como Sergius a denominava e que inspirou Pieter a usar como título, o que foi genial...

NOVO DESAFIO: A PARTIDA DE SERGIUS E REESTRUTURAR O MUSEU...

Sergius que chegou a ver o Volume I do livro pronto, e o esboço do Volume II, partiu e deixou um vazio... e quando ainda estava acamado, mas sempre lúcido e atento, consegui convencê-lo a reformar as obras do lindo Parque de Esculturas, visto que os “meninos” estavam sem ocupação...

Ele concordou aliviado de poder manter os seus preciosos ajudantes ocupados (Danilo e Dinis), e eu igualmente, porque tentativas anteriores fracassaram, pois Sergius queria sempre só produzir e não voltar ao passado seja para organizar seu acervo ou para reformatar obras... mas, após sua partida...

Iniciamos no segundo semestre de  2016 a reforma do piso do Museu 1, visto que havia muita umidade vinda do solo que estava inclusive afetando suas obras – isso levou algumas semanas que viraram meses... mas, em dado momento o trabalho estava concluído e um novo desafio na fila de espera:

QUAL COR PINTAR “O INTERIOR DO MUSEU 1”?

Fui buscar por opiniões com especialistas e a dica sempre era usar algum tom neutro, tipo areia, palha, branco gelo, e similares. E cheguei a comprar tintas-testes e quando fui checar o resultado... achei todas “pálhidas” demais... e, depois de muito refletir decidi assumir o risco de pintar de amarelo forte...

O amarelo deveria substituir a luz solar,  visto que Tijucas do Sul tem o menor índice de horas-sol do Brasil (ou tinha), além de muita umidade, e por isso quando a conheci a apelidei de New England... anos depois soube que por isso mesmo que aqui temos tantos haras criando cavalos ingleses...

Elisabeth, entusiasmada com o amarelo, disse que gostaria de ter uma parede vermelha... Hesitei um momento e depois pensei que seria bom unir à luz do amarelo o fogo do vermelho num lugar quase sempre frio e úmido e assim acabei criando em cada sala uma parede vermelha... ;-)

PRÓXIMO DESAFIO: REDISTRIBUIR AS OBRAS...

Imaginem que todas obras do Museu I foram empilhadas no Museu II e então comecei um lento e intenso processo de selecionar as obras por salas... e acabei constatando na prática que minha intenção de criar uma linha de tempo coerente dos anos 50 da Viena até 2014 por salas... seria impossível...

Pois tive que adaptar o gênero, o tamanho e a quantidade de cada série ao tamanho das salas...  e pela falta de mais salas, tampouco pude usar para cada sala apenas um gênero... e seguindo a dica de Pieter Tjabbes de que MENOS É MAIS, evitei superlotar as salas com obras...

Por outro lado, para facilitar o visitante não conhecedor do vasto acervo, criei um mural contendo a vida (um resumo biográfico) e as obras (com seu currículo), de Sergius, bem como algumas fotos e seguindo uma sugestão de Ariane Azambuja Salgado, criei fichas informando o acervo de cada sala...

REINAUGURANDO O MUSEU PELOS 100 ANOS DE SERGIUS

Diante do resumo altamente condensado exposto acima do que é se deparar com um acervo desta magnitude, tanto em gênero, tamanho e diversidade, e dos custos financeiros que envolve tal, que o tempo gasto acabou se revelando igualmente providencial, pois a reinauguração coincidiu com os 100 anos...

E para poder assegurar que todo este empenho e custo financeiro seja preservado e bem usado daqui prá frente, além do tombamento do Museu (efetuado em 2015), estamos estudando a composição de um conselho que, independente da Administração local, zele pelo Museu em geral.

E embora todos desejem que o Museu fique aberto ao público, devo dizer – em nome de Elisabeth inclusive,  que isso agora é possível devido à reforma e reestruturação, mas que, como com tudo, vai envolver custos de contratar uma pessoa gabaritada para tal, bem como da limpeza e manutenção das obras e do Museu, entre outros.

E DEVO DIZER MAIS:

A Sergius só interessava criar e achar espaços para guardar suas obras; foi Elisabeth que o convenceu a voltar a expor e se empenhou para realizar tal. De minha parte criei um Projeto de Turismo  que envolvia Faculdades de Arte da Suíça (onde vivi quase 9 anos), Alemanha e Áustria, via Curitiba...

Que denominei ViajArte! Montei o tal projeto até em alemão, insistindo que Sergius valorizasse seu lindo Parque de Esculturas e seus Museus... mas ele sorria e continuava produzindo... sem parar... e assim meus projetos de tornar sua arte internacionalmente conhecida... ficou esquecida...

E talvez agora, com a visita do Diretor da Paraná Turismo, algo similar poderá se concretizar e não apenas tornar o Museu aberto ao público, mas criar rotas e roteiros nacionais e internacionais e assim valorizar todo o empenho investido nos Museus, do qual apenas registrei o essencial.

UM TESOURO A SER DEVIDAMENTE GUARDADO E USADO!

Ao contar a Ariane Azambuja e duas amigas, que visitaram recentemente o Museu, como conheci Sergius e comecei a trabalhar para ele, percebi que se o cão Pitt de Sergius definiu sua escolha pelo Brasil, a cachorrinha Vicky e depois a gata Mimi definiram meu encontro com o Parque e Sergius...

E ao constatarem isso, Ariane e amigas disseram que deveria contar esta história e a postar no blog REPENSANDO MUSEUS... E eu, pensando bem, constatei que deveria contar isso ao público de Tijucas do Sul, para que conheçam a trajetória que foi chegar ao ponto de reinaugurar os Museus...

E da responsabilidade e dos custos que implica em abrir o Museu ao público, preservar as obras e o Museu, criar roteiros, e de aproveitar, sem prejudicar, este precioso legado de Sergius Erdelyi, que, de fato, é um tesouro, não apenas em termos de Arte, mas para fomentar o Turismo e gerar riquezas!

Helena Schaffner

19/10/2019 

 


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